27 de junho de 2013

Matilha

E no frio daquela rua
Numa noite sem saída
Aquele cão me acompanhou
Como um anjo da guarda
Me protegendo dos temores da meia-noite
Era branco quando iluminava a noite
E preto refletindo o sol
Forte e voraz
Cortando o vento a minha frente
Ávido e de peito avante
Corria na frente, mas não muito distante

E quando eu parei em frente ao portão
Voltou e me abraçou com seus olhos
E seu rabo abanando

Não que tenha me abandonado no meio da jornada
Mas de uma hora pra outra sumiu
Onde está meu cachorro
Embaixo da ponte, ou no casco de um navio?
Onde estará meu cão
Deitado embaixo da árvore, ou embaixo de um caminhão?

21 de junho de 2013

Passeata - Joinville/SC

Faltou foco. Gente animada, cantando qualquer coisa que seja cantável tá mais pra carnaval que protesto.

      Por um lado foi muito bom e bonito ver os Joinvillenses gritando junto e andando junto, em um movimento de certa forma independente, iniciado e organizado primariamente na internet, divulgado apenas de amigo em amigo, juntar tantas pessoas, mesmo com chuva.

      Por outro foi meio perturbador ir em uma passeata, inicialmente focada no MPL, depois aberta para questões como a PEC 37 e a Copa do Mundo, ficar aberta a ponto de cantar e propor ideias muito abertas, como "fim da corrupção" ou "mais saúde e educação" ou "o povo acordou". Bonito, mas minimamente efetivo.

     Torço para que seja o início de algo maior que vai ganhar corpo e direção/foco porque, se continuar só assim, não vai mais longe do que a "modinha" e a euforia inicial.

Sei lá, posso estar totalmente enganado, mas foi o que percebi.

13 de junho de 2013

Insônia

Não estava nada claro esta manhã
Parecia até que o sol não tinha nascido
Eu não sabia que iam apagar a luz
Pois eu pago a minha fatura todo mês

Mas eu confesso que eu semprei gostei
De ficar no meu quarto escuro
Eu sei, eu estou ficando velho
E estou ficando cego

Mas aí eu percebi que não era de manhã
E que os pássaros não estavam cantando
E havia uma pequena luminosidade
Era uma bola grande e branca no céu

Foi aí que eu percebi
Eu tinha trocado a noite pelo dia

E toda aquela alegria que um dia eu tive
Hoje eu já não tenho mais medo de ser clichê
Tenho medo de ser covarde, e vontade de ter coragem
Mas eu sei, a vida não é fácil assim

E eu não aprendi a andar sozinho
O medo as vezes faz a gente tropeçar,
Mas eu sei que o meu pé vai crescer
E com esse sapato eu ainda vou andar direito

E foi aí que eu percebi
Eu troquei a noite pelo dia

E nem chá de camomila é capaz de curar a minha insônia

12 de junho de 2013

Vida de Praça em Praça

Que seja feio, mas que seja gol
Que seja estranho, mas que seja amor
Que seja amargo, mas que seja café
Pode durar pouco, mas que seja intenso

Eu não entendo de Tom, Caetano, Chico
Mas eu toco violão, nas praças, na roda dos amigos
Eu fumo, mas só pra relaxar
Eu bebo, mas só porque as vezes é bom esquecer

Eu ando rápido, mas não pra levantar poeira
As vezes é bom não falar onde vai
Sem deixar perceberem onde está
Porque talvez nesse tempo todo, a gente só quer se esconder

Mas de que adianta se esconder
Ninguém mais ainda anda sozinho na estrada
Tem quem volte e quem vai
Mas sempre tem alguém que veio pra ficar.

7 de junho de 2013

Suspensão

Se o vento vem desintegrar
O que eu já era antes
A ausência de acreditar
Que quem saiba hoje
Surja um porque

O que virá que possa ser pior?
Quem sabe mais uma chance
Tornará-se o vazio, porém,
Tão bem-vindo
Se no acaso couber

Sendo que a noite vem desempenhar
Instável desejo de ser
Admirável como o ruído,
Que estilhace o desconforto neural

E se eu te conto que me arrependi,
Foi no último segundo,
Suspenso no ar,
Tentando desenhar, com meu corpo,
Reflexos no chão.